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Publicado em 10 de maio de 2024

Que filhos estamos deixando para o mundo?

É comum ouvirmos a pergunta: Que mundo deixaremos para nossos filhos. No entanto, sugiro a reflexão: Que filhos deixaremos para o mundo?

Ticiana Rolim

Escrito por Ticiana Rolim – ticiana@somosumce.com.br
Empreendedora social e presidente da Somos Um


10 de Maio de 2024

Que filhos estamos deixando para o mundo?

Artigo escrito para a revista Insider 

Recentemente, estive em um retiro com Satish Kumar, pensador indiano de 87 anos que mora há 50 anos na Inglaterra e é fundador da Schumacher College. Ele diz:
“Fundei uma universidade há 30 anos, quando percebi que a educação fazia parte do problema e não da solução.”

Ele identificou isso ao perceber que os maiores desafios da humanidade, como a crise climática e a desigualdade social, não foram criados pelos povos indígenas, moradores de rua ou pessoas com pouco acesso à educação. Pelo contrário: foram os que estiveram nas melhores escolas e universidades do mundo que os provocaram.

Por isso, ele questiona: Que educação estamos entregando para as crianças e os jovens?

Ele argumenta que as escolas muitas vezes negligenciam o desenvolvimento integral, priorizando apenas o lado analítico e lógico do cérebro, em detrimento das emoções, habilidades manuais e artísticas. Essa abordagem desequilibrada resulta em uma desconexão de si mesmo e, consequentemente, da natureza.

Satish traz esse problema como inspiração para a criação da Schumacher College, onde a educação é concebida de forma integral.

Pela manhã, os alunos meditam, fazem rodas terapêuticas, cozinham, cuidam da horta e do jardim. Só depois é entregue o conteúdo cognitivo, ou seja, trabalham primeiro as soft skills e depois as hard skills.

Ele também desafia o paradigma das universidades de economia, explicando que ECO vem do grego OIKOS, que significa casa, e NOMIA, administrar — ou seja, administrar a casa. No entanto, muitas universidades no mundo não estão ensinando dessa forma.
Em visitas às universidades de economia, ele perguntou: Que atividades vocês têm na natureza? Fazem trabalhos manuais, plantam, cozinham e cuidam da horta?


Diante das respostas que obteve, Satish sugeriu mudar o nome de ECONOMIA para DINHEIRONOMIA, percebendo que as instituições estavam ensinando a ganhar e administrar dinheiro, e não a cuidar da casa em que vivemos, a Terra.

Essas reflexões nos convidam a fazer uma autoanálise e repensar não apenas o sistema educacional, mas também nossa relação com a natureza e que tipo de vivências estamos proporcionando aos nossos filhos.


Somente através de uma educação verdadeiramente integral poderemos criar uma geração de indivíduos conscientes, prontos para enfrentar os desafios do século XXI com resiliência e criatividade — e que amanhã estarão tomando decisões nas empresas, na política ou nas salas de aula, formando as próximas gerações.

E então, que filhos deixaremos para o mundo?